Poema por José da Mata
I
A roupa fora do corpo pende
(e sei o que é)
fora do corpo,
precipitar-se a ver e a verter,
como é fora e é
o que se verte,
e se sabe o que
nele, no corpo, pende para onde
vertemos a existência.
Da solidão dispersa pelo vazio do espaço
que na sua
(tácito, sim… sim, obviamente tácito o vejo!)
solidão vazia e cruzada,
pendendo de onde a vemos e julgamos querer
(julgo, posso esquecer o plural)
esboçar um cruzamento ausente no espaço,
da dispersão vazia de espaço e
de visão.
Vejo-o, sim!
Grito rasgado abstracto, nu,
sem sentido,
absurdismo da visão vertida
precipitadamente, a pender
para ele-vazio;
pensamento tácito e disperso que
em sucessivos cruzamentos esboça
uma visão de roupa a pender
no espaço que abruptamente
julgámos vazio.
PASSAGEM À LÓGICA DO CONCRETO:
Deitado e com as pernas cruzadas,
a tocar, apoiadas na colcha branca,
a ouvir o som emitido
e a gozar a reclusão
pretendida e vertida
vivo comigo, estou comigo, coço as orelhas,
e esfrego os pés;
suo, o calor de espaço cerrado sem ar;
o nariz obstruído,
tento esvaziá-lo, com a pressão que fere os tímpanos.
A banana é indigesta, porra!
II
“–A solar, a solar!!!”
(transe, transe!)
Papárárurááá ruráruráruuu!!!
As coisa empilhadas (umas em cima das outras)
as coisas encostadas às paredes,
as coisas,
nas suas posições relativas, as coisas,
(bem aventurados aqueles que…)
ter as lógicas destas coisas que existem; é
preciso conceber que com elas as temos.
“–A solar, a solar!!!”
Rururárirááá!!!
III
A orelha presa e dobrada na almofada a comichão no nariz e nos olhos a nuca a sentir o areado do reboco beije a sola do pé esquerdo a esquecer a comichão a cavidade nasal entupida o suor nos órgãos genitais a boca seca ainda amarga os dedos da mão direita comprimidos num cilindro o estômago a manifestar-se a coxa com o papel nela o maxilar inferior e a barba nele cresce plantada o sovaco roçado na mão direita as peles secas que tendem para abandonar o nariz ou os cabelos das pernas a reagirem à electricidade estática.
Como o espaço é curto e breve a escrita,
repete o que lá é sem sentido e com
o sentido total de tudo; assim
lá chegaremos, ao que é incerto
frágil, sem medida, sem valor ou
número ou nada do que se pode
IV
assim fica
V
anti-séptico das vias respiratórias
Friccionar bem o peito e as costas várias vezes ao dia
adulto 20g
Lote: 3001D59
Val: ABR/98
sexta-feira, 7 de outubro de 2005
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